terça-feira, setembro 21, 2010

Sete Quedas


Estive em Guaíra - Pr no início de Setembro, e aproveitei para conhecer mais sobre a história da cidade, e principalmente saber mais a respeito da Sete Quedas. É doloroso pensar que esse paraíso da foto deixou de existir...
Para aqueles que nunca ouviram falar ou que não conhece a história da Sete Quedas irei contar...

Sete Quedas: Também chamado Salto Guaíra era a maior cachoeira do mundo em volume de água, que desapareceu com a formação do lago da Usina hidrelétrica de Itaipu. No entanto resquícios delas aparecem quando o nível de água da usina está baixo. Apesar do nome, eram constituídas por 19 cachoeiras principais, sendo agrupadas em sete qrupos de quedas, porém há quem diga que eram constituídas de mais de trezentas cachoeiras. Recordistas mundiais em volume d'água, as Sete Quedas eram o principal atrativo turístico de Guaíra, cidade que na época chegou a ter 60 mil habitantes, rivalizando em importância com as cataratas de Foz do Iguaçu. Na época, Guaíra era um dos destinos brasileiros mais visitados por estrangeiros. Atualmente, a população é inferior a 30 mil habitantes.


Quando houve a construção da usina hidrelétrica de Itaipu, ocorreu uma supervisitação ao parque nacional das sete quedas. Milhares de pessoas, de todas as partes do Brasil e do Mundo, iam à Guaíra para presenciar os últimos dias das Sete quedas. Devido à superlotação, em 17 de Janeiro de 1982 ocorreu a queda da ponte Presidente Roosevelt, que dava acesso ao salto 19, tendo como consequência a morte de 32 pessoas. No entanto, 6 pessoas sobreviveram, salvas pelo pescador João Lima Moraes, conhecido como o herói da Sete Quedas João Mandi. A investigaçao apontou para uma dupla causa: primeiro, a falta de cuidado com a manutenção das pontes sob a presunção de que em breve as Sete Quedas seriam inundadas; e depois, o aumento descontrolado da visitação, pois todos queriam ver os saltos antes de seu desaparecimento para a formação do lago de Itaipu.


Às vésperas da inundação, uma grande manifestação ocorreu no parque nacional das Sete Quedas. Centenas de pessoas se reuniram e realizaram o "QUARUP", um ritual indígena em memória das sete quedas.


Em 13 de outubro de 1982, o fechamento das comportas do Canal de Desvio de Itaipu começou a sepultar, com as águas barrentas do lago artificial, um dos maiores espetáculos da face da Terra: as Sete Quedas do Rio Paraná ou "Saltos del Guaíra".


Durante a inundação, os moradores de Guaíra iam até a beira do rio para se despedirem das Sete Quedas. Foi uma época muito triste, segundo pessoas que vivenciaram esta tragédia de perto. O inundamento das Sete Quedas durou apenas 14 dias, pois ocorreu em uma época de cheia do rio Paraná, e todas as usinas hidrelétricas acima de Itaipu abriram suas comportas, contribuindo com o rápido enchimento do lago.


Portanto, em 27 de outubro de 1982 o lago estava formado e as quedas, afogadas. Nos dias seguintes ao alagamento, apenas as copas das árvores ficavam acima do nível do rio, uma cena um tanto deprimente, pois pareciam "mãos pedindo socorro".


De acordo com levantamentos altimétricos a primeira ponte - a do Saltinho - ficava a 204 metros acima do nível do mar, o que significa que o lago formado pela represa de Itaipú, ao atingir sua cota que é de 220 metros acima do nível do mar, deixou esta ponte sob 16 metros abaixo da lâmina d'água.


Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta Carlos Drummond de Andrade expressou sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade.


Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B:


Sete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram. Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio. Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do planeta.


Aqui outrora retumbaram vozes da natureza imaginosa, fértil em teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem contrato. Uma beleza-em-si, fantástico desenho corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à humana vista extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenharia de remotos egípcios e assírios em vão ousaria criar tal monumento.


E desfaz-se por ingrata intervenção de tecnocratas. Aqui sete visões, sete esculturas de líquido perfil dissolvem-se entre cálculos computadorizados de um país que vai deixando de ser humano para tornar-se empresa gélida, mais nada.


Faz-se do movimento uma represa, da agitação faz-se um silêncio empresarial, de hidrelétrico projeto. Vamos oferecer todo o conforto que luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem resgate, empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la. Sete boiadas de água, sete touros brancos, de bilhões de touros brancos integrados, afundam-se em lagoa, e no vazio que forma alguma ocupará, que resta senão da natureza a dor sem gesto, a calada censura e a maldição que o tempo irá trazendo?


Vinde povos estranhos, vinde irmãos brasileiros de todos os semblantes, vinde ver e guardar não mais a obra de arte natural hoje cartão-postal a cores, melancólico, mas seu espectro ainda rorejante de irisadas pérolas de espuma e raiva, passando, circunvoando, entre pontes pênseis destruídas e o inútil pranto das coisas, sem acordar nenhum remorso, nenhuma culpa ardente e confessada. (“Assumimos a responsabilidade! Estamos construindo o Brasil grande!”) E patati patati patatá...


Sete quedas por nós passaram, e não soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá.

“Meus pais me contam histórias felizes e divertidas que viveram no Parque Nacional Sete Quedas e contam com tristeza o dia que ela desapareceu. Mas somente neste ano, nesta visita a cidade de Guaíra, que meu pai com lágrimas nos olhos me revelou que meu falecido avô Kenichi Hirono chorou feito criança quando ela desapareceu e disse que aquela ferida que se abrira em seu peito jamais iria cicatrizar”.

4 comentários:

Anônimo disse...

ola..poxa estava hoje mesmo conversando com uma amiga que teve agraça de conhecer as sete quedas.. não tive o prazer de conhcer, mas tenho o desprazer de saber da história, e é como se pudesse sentir a dor de tão grande perda.
parabens pela postagem

Morgana - Euluazinha disse...

Eu tive o prazer de ir com minha tia qdo. eu tinha 17 anos e conheci as 7 quedas, o que ví foi algo deslumbrante.
Me senti triste qdo. itaipu surgiu.
Qdo. vou a cascavel vou até foz, pois a acho muito bonita tbm.
Mas dá tristeza de lembrar que era tudo muito mais lindo...

Anônimo disse...

ola... tenho 35 anos estive em foz iguaçu e vi a maravilha que são as cataratas e quanto soube das sete quedas logo quis saber mais sobre ela pois fico muito triste em saber que algo tão maravilhoso que deus nos deu de graça,e que tenha sumido,mas nunca esquesemos que algum momento isso sera cobrado pela mãe natureza ai vamos ver elas novamentes.parabens pela materia....

norma lacerda disse...

nasci em guaira tenho 45 anos e acompanhei de perto o desaparecimento das sete quedas ja minha familia era de agricultores e todas as nossas casa terras foram alagadas pela itaipu meus pais faleceram em seguida de doença causada pela tristeza em nome do chamado progresso mal fomos indenizados pelo governo federal